Cuidados na hora de escolher as músicas - Parte 1

  14/09/2015 |    4595 views |    0 views  

Dualidade contida na letra de músicas

Hoje iremos falar sobre o cuidado com músicas que apresentam uma dupla interpretação, gerando dúvidas até mesmo dentro do Ministério de Louvor. A primeira função deste artigo é informar que há diversas músicas com mais de uma interpretação possível, para isso precisamos criar o hábito de analisar as letras a fim de filtrar quaisquer problemas. Sempre instruo ao líder do Ministério de Louvor que peça a aprovação de seu pastor antes de inserir uma nova música, pois é ele quem direciona a visão da Igreja. Se você é pastor, aconselho que não deixe nenhuma música entrar na sua Igreja, sem antes fazer uma análise da letra, pois desta forma, estará filtrando possíveis problemas teológicos e doutrinários.

Enquanto fui líder de um ministério de louvor, tive a experiência de uma mesma música ser negada por um pastor e depois ser aprovada por outro pastor, irei usar esta experiência para exemplificar a dualidade da interpretação do texto da música, de uma forma mais clara.

A música desta experiência é a

Última Chance do Ministério Ipiranga, abaixo coloco a letra para que você possa ler.


Última Chance

Ministério Ipiranga

Uma chance igual a essa
Talvez eu não tenha mais
Quero estar em Tua presença
Nem que seja a última vez

Se tiver que gritar, eu gritarei
Se tiver que chorar, eu chorarei
Se tiver que humilhar o meu espírito
Assim o farei, me dá mais uma chance

Eu quero nascer do Teu Espírito
Eu quero matar a minha carne
Fazer Tua vontade, doce Espírito
Que a minha vida seja Tua vida Jesus


POR QUE A MESMA MÚSICA FOI NEGADA E APROVADA?

Este fato só aconteceu por que a letra dá a possibilidade de uma dupla interpretação. Um pastor analisou e concluiu de uma forma mais literal o sentido do texto, o outro interpretou de uma forma mais poética.


POR QUE FOI NEGADA? (PASTOR 1)

A discussão central sobre a validade da música se encontra neste verso:

Uma chance igual a essa
Talvez eu não tenha mais
Quero estar em Tua presença
Nem que seja a última vez

O pastor 1 concebeu o texto de uma forma literal, ao pé da letra como diríamos no popular, não dando nenhuma outra possibilidade de interpretação. Quando lemos a frase "Quero estar em Tua presença nem que seja a última vez" e a julgamos fora de um sentido poético, chegaremos a esta conclusão:

Biblicamente, para o cristão, não existe última vez para estar na presença de Deus. O cristão carrega dentro de si, a certeza de que mesmo morrendo, estará diante da presença de Deus.


POR QUE FOI APROVADA? (PASTOR 2)

Assim que o novo pastor chegou (minha denominação segue o regime de pastores itinerantes), ele pediu para cantar esta música no momento do louvor. Como líder, fui bombardeado de questionamentos, vamos cantar? Mas o pastor anterior falou que não pode e agora? Fiz o que todo líder deve fazer. Mandei um email para o pastor apontando a instrução que havíamos recebido e pedi um direcionamento e ele me respondeu. Abaixo coloco na íntegra a resposta.

"Não vejo nesta música um erro teológico. Vejo nesta música uma hipérbole, que é comum em poetas, e o próprio Senhor Jesus usou deste artifício para falar do cuidado com o pecado em Mt 5.29,30 onde Ele manda arrancar o olho e cortar a mão, para não ir com o corpo inteiro para o inferno. A Bíblia fala da brevidade da vida em Sl 90.4-6 usa a metáfora de uma erva que de madrugada cresce e floresce, à tarde corta e seca; e no versículo 12 Moisés pede a Deus para ensiná-los a contar os seus dias de modo que alcance um coração sábio. Isso corrobora com o que diz o sábio Salomão falando sobre o ápice do vigor da vida que é a mocidade em Ec 12.1-9; Jesus fala que não nos pertence saber os tempos ou estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder At 1.7, e que devemos viver um dia de cada vez Mt 6.34 (Ele está falando de sustento, e preocupações com futuro, mas Ele dá a ideia de viver um dia de cada vez). Uma vez que a vida é breve, não sabemos quando iremos prestar contas a Deus e devemos estar prontos para encontrarmos com o nosso Deus; percebo que o autor da música está maximizando poeticamente o desejo de estar na presença do Senhor. (Ainda que possa ter sido inspirado por uma passagem bíblica como do cego Bartimeu, que notando a passagem do Senhor pelo local que estava começou a fazer muito barulho para chamar a atenção do Senhor e conseguiu Mt 29.29-34;Lc 18.35-43;Mt 10.46-52). Portanto noto que a expectativa do cristão é de buscar com esta avidez todos os dias a presença do Senhor! Isso é coisa de Novo Convertido que está no Primeiro Amor! E lembre-se que a Igreja de Éfeso foi denunciada em Ap 2.1-7 por ter deixado o seu Primeiro Amor. Não vejo no argumento proposto, que fez com que não se cantassem mais o louvor erro teológico e sim uma questão de entendimento muito pessoal. Então por mim pode canta-lo, pois está em sintonia com os ensinamentos bíblicos de Amor a Cristo, brevidade de vida, convencimento do Espírito e posicionamento."


E O QUE EU FIZ?

Como um líder, que é liderado por um pastor, tirei a música quando o pastor 1 pediu e inseri quando o pastor 2 pediu. Porém, não fiz sem dar um embasamento para os componentes do ministério de louvor, nas duas eu mostrei os argumentos e disse que concordaríamos com a visão sugerida. Qualquer mudança de direção deve ser esclarecida, se não nos tornaremos líderes com duas respostas: Por que sim e Por que não.

O líder do ministério de louvor não deve achar que está acima de qualquer liderança, ele é líder porque existe pelo menos outro líder acima dele, pois caso contrário, seria o dono. Em uma empresa somente quem não é liderado é o dono, o restante, qualquer pessoa que receba o título de líder é um liderado também.


CONCLUSÃO

Algumas músicas, por não termos um esclarecimento direto de seus compositores, geram dúvidas quanto ao seu sentido, ficando nós o "público" com a missão de interpretar. Toda letra de música que apresenta duas interpretações, carrega em si uma dualidade, dificultando a compreensão, colocando em um terceiro a responsabilidade final interpretativa. Como disse acima, o pastor da Igreja deve ser o responsável direto por aprovar ou não uma música, diante do seu entendimento e interpretação sobre a mesma. Não podemos assim levantar um julgamento correto sobre quem estava certo, o pastor 1 ou o pastor 2, pois ambos tinham argumentos válidos tanto para negar quanto para aprovar. O importante é que, a música quando foi inserida novamente ao reportório, tinha fundamento coerente e plausível, tirando todo e qualquer vestígio de heresia.

Crie o hábito de analisar as letras das músicas e consultar ao seu pastor antes de inserir no repertório. Busque um diálogo aberto com ele, desta forma, todos ganham.